Da freguesia dos irredutíveis gauleses para o Funchal. E Lisboa?
A analogia faz-se sozinha. Há uma freguesia da Madeira, Gaula, resistente ao jardinismo como nenhuma outra nos últimos 37 anos, de onde sai um movimento de cidadãos, protagonizado por dois irmãos, que se diz detentor de uma “poção mágica” que o torna poderoso no meio partidário e que desde domingo é a quarta força do parlamento regional. O gentílico de Gaula? É gaulês, claro.
Na freguesia onde tudo começou, Filipe Sousa até já foi conhecido por Filipix, dadas as coincidências com a “aldeia povoada por irredutíveis gauleses” que, no início de cada livro do Astérix, “resiste agora e sempre ao invasor”, o Império Romano. Como na banda desenhada, este fundador do Juntos Pelo Povo recusa-se a revelar o segredo da “poção mágica”, como lhe chama, que fez com que o partido criado em Janeiro conseguisse chegar em dois meses ao parlamento regional, com uma representação (cinco lugares) igual à do PS-Madeira. O irmão Élvio Sousa também fala na “tal poção”, mas lá adianta alguns ingredientes: “Fazemos um trabalho quotidiano junto das populações. As pessoas criticam os partidos que estão em contacto apenas nos momentos eleitorais mas depois disso se fecham nos gabinetes.”
Filipe e Élvio têm nove anos de diferença (o primeiro tem 50, o segundo 41) e, juntamente com um conjunto de cidadãos independentes de Gaula, fundaram o movimento Juntos Pelo Povo (JPP) em 2008 para contrariar a “lógica partidária”. “A partidarite condiciona os autarcas”, argumenta convicto.
No ano seguinte candidataram-se à Câmara de Santa Cruz, roubaram a maioria absoluta ao PSD e passados quatro anos Filipe foi eleito presidente. Descontente com os partidos, atende o i à primeira, num contacto simples para a câmara. “Espere um pouco, vou fechar a porta... É fácil apanhar-me, sim, tão fácil que a porta está sempre aberta.” Num madeirense pausado fala do descontentamento com os partidos e conta o seu percurso político no poder local. Entrou em 1997, como candidato independente nas listas do PS à freguesia de Gaula, que tem pouco mais de 4 mil habitantes, a agricultura como principal actividade e “em 36 anos de poder jardinista foi a única onde a oposição contrariou sempre a hegemonia laranja” na Madeira, sublinha. Desliga-se do PS, funda o movimento e a história segue até ao parlamento regional.
Legislativas Para concorrer numas eleições que não as autárquicas, o JPP teria de se constituir partido. Filipe torceu o nariz, “receava a partidarite que estraga em muito a resolução dos problemas”, argumenta. Mas “a ideia era levar o projecto mais além”, diz, conformado com o que acabou por acontecer num curto espaço de tempo.
No início de Fevereiro deste ano o JPP foi legalizado. “Não estávamos a contar com este acto eleitoral.” A frase é de Élvio, que encabeçou a lista às legislativas e ouviu o irmão avisar, nos dias seguintes, que “é preciso ter cuidado que ainda nos cai o bebé nos braços. E caiu. Agora há que amamentá-lo”, acrescenta Filipe Sousa que, na altura, estava sobretudo preocupado com a composição das listas. Afinal havia hipótese de eleger mais de um deputado. “Basta uma andorinha para estragar a Primavera”, atira o autarca para justificar a cautela. O provérbio popular não é este, mas no JPP também não foi devagar que se foi longe. E a meta pode nem sequer estar na Assembleia Legislativa sediada no Funchal.
A Assembleia da República está no horizonte do JPP. Até porque, lembra Élvio Sousa, o partido tem “uma base considerável de apoios na Grande Lisboa, no meio académico, empresarial e da cidadania”, diz ao i. O congresso nacional deve realizar-se em Maio, e aí o JPP “vai reflectir sobre as legislativas e ponderar seriamente a apresentação de uma candidatura”.
O agora deputado da Assembleia Legislativa da Madeira é também o presidente da Junta de Freguesia de Gaula, onde vai manter-se em funções. É arqueólogo, formado na Universidade de Lisboa, e investigador na área da arqueologia da expansão portuguesa. Não gosta de colar o JPP a ideologias. “É composto por muitos homens e mulheres que não se identificam com a dicotomia esquerda/direita”, garante ao mesmo tempo que aponta como prioridade a área social – “Se isto é esquerda ou direita...” “Nunca fui militante e 99% dos deputados ou autarcas do JPP também não. O melhor da política está nos cidadãos”, diz ainda no ritmo da ladainha de campanha daquele que foi alvo de ataque frequente dos partidos tradicionais durante o último mês.
O JPP vai ocupar cinco cadeiras no parlamento regional e propõe-se ter um gabinete móvel de apoio à população, para sustentar e dar a conhecer as propostas sociais do partido. Há uma coisa que recusou na campanha e mantém como lema: não a coligações. “Há uma filosofia e isso quebraria a confiança com os cidadãos. Jamais poremos a hipótese de acordo.” Bom, há um possível. Os irmãos são ambos músicos. Élio toca viola e harmónica nos SOS (Somos o que Somos), uma banda de originais de blues e rock. Filipe tocou, na adolescência, nos Chacal (“É um animal que come carne podre e as nossas letras atiravam aos podres da sociedade”, explica o autarca). “Um dia ainda fazemos uma banda com o actual presidente do governo regional, que toca piano.” Élvio ri-se, garantindo que com Miguel Albuquerque só mesmo na música. Será?
01/04/2015
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