Essa poção mirífica que nos tornará invencíveis chama-se inovação. Que bom seria podermos recorrer aos serviços do druida Panoramix, o único economista que conhece a fórmula mágica!
É a buzzword mais repetida em todos os quadrantes da actividade económica e empresarial. A irredutível aldeia portuguesa vê nela o elixir mágico capaz de injectar no tecido produtivo nacional uma força comparável à dos nossos poderosos adversários. Empresários, políticos e académicos multiplicam-se em declarações de fervor a seu respeito, avançando receitas e metodologias várias. Nela concentrámos todas as nossas esperanças, esgotado que está o arsenal competitivo convencional. Essa poção mirífica que nos tornará invencíveis chama-se inovação. Que bom seria podermos recorrer aos serviços do druida Panoramix, o único economista que conhece a fórmula mágica!
Como bem se lembrarão os leitores de Asterix, os ingredientes da poção eram produtos naturais, à vista e à disposição de todos, que o feiticeiro gaulês recolhia tranquilamente na floresta. Havia, é certo, umas ervas especiais cuja localização exacta Panoramix não revelava (sempre desconfiei, aliás, que esse pequeno toque de mistério não era mais do que um golpe de marketing do druida), mas todos os ingredientes eram de acesso público. O segredo, se é que o havia (não seria a mistela um simples placebo?), estava na selecção, dosagem e manuseamento dos componentes. O mesmo acontece com a poção da inovação.
Não restam dúvidas que o mundo de hoje exige comportamentos velozes e inovadores por parte das empresas, mas inovar comporta riscos não negligenciáveis, a que muitos fogem por aversão natural ou por desânimo. Toda a inovação implica uma descontinuidade na cadeia operacional e isso provoca custos de adaptação, mesmo que no final do exercício se obtenham ganhos de produtividade ou de mercado. A inovação nos processos permite aumentar a eficiência industrial, mas não é gratuita - exige tecnologia, expertise, formação e tempo. A inovação nos produtos permite expandir as vendas, mas também custa dinheiro - em marketing research, engenharia, publicidade e tempo. E, sobretudo, é de resultado incerto. Por isso, as duas principais substâncias do elixir da inovação são a qualidade da gestão e a cultura de risco. Mais do que em todos os restantes, é nestes dois ingredientes intangíveis que a receita de sucesso tem o seu princípio activo. A investigação, a tecnologia, a organização em rede, os estímulos públicos, todos integram a fórmula final, mas enquanto elementos bio-assimiladores. Os corantes e odorantes, esses são ao gosto de cada um.
Enquanto não surge a Panoramix Consulting Services, por toda a parte se experimentam fórmulas. Os ingredientes activos e os bio-assimiladores são comuns, mas as dosagens e os processos de amalgamação são bem diferentes. O último barómetro da inovação no mundo empresarial, o Innobarometer, encomendado pela Comissão Europeia à EOS Gallup Europe, dá conta do estado da arte nos 25 países da União com base num extenso inquérito realizado junto de gestores de pequenas e médias empresas (100 em Portugal) e revela alguns factos curiosos. Destaco dois. O primeiro é o bom posicionamento relativo das PME portuguesas quanto à dinâmica de lançamento de novos produtos e à presença em mercados internacionais. Seria interessante monitorar o ciclo de vida e a rendibilidade dessas inovações, mas não deixa de ser apreciável que cem gestores nacionais tenham revelado uma percepção tão positiva. O segundo é o facto surpreendente de Portugal estar acompanhado da Dinamarca e da Suécia no ranking das práticas de investigação - interna, subcontratada ou em rede - entre as PME. Isso mesmo. Ocupamos os três últimos lugares da Europa dos quinze. Dos novos membros, só ficamos com a companhia da República Checa e da Lituânia, sendo ultrapassados pelos restantes. Ele há barómetros?
Luis Nazaré, Jornal de Negócios,17/02/2005
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