12.10.23

Astérix na Lusitânia

Astérix na Lusitânia. O desafio está lançado

Editor português fez a sugestão ao argumentista da banda desenhada dos "irredutíveis gauleses", que têm uma nova aventura aos quadradinhos passada na Escócia.

Astérix, o gaulês, e o seu inseparável amigo Obélix estão de novo em acção. “Asterix entre os Pictos” é a sua nova aventura. O livro está a ser lançado hoje em todo o mundo, com novos autores mas a mesma estética e o sentido de humor de sempre.

Os heróis de banda-desenhada Astérix e Obélix nunca estiveram em terras lusas, mas isso pode mudar. O desafio foi lançado pelo editor português ao novo argumentista Jean-Yves Ferri.

Para quando o livro “Astérix na Lusitânia”? Vítor Silva Mota, editor da ASA infantil e da ASA BD, diz que “material não falta” e que a semente pode ter sido lançada durante a recente visita de Jean-Yves Ferri a Portugal.

“Nós, Portugal e editora ASA, tivemos o privilégio de acolher cá o novo argumentista, autor do texto, no mês passado, ele visitou aqui alguns locais e, brincando com ele, lancei-lhe esse desafio e dei-lhe vários exemplos de coisas que podiam ser utilizadas. É evidente que não ficou aí nenhum compromisso mas, se calhar, ficou lançada a semente e agora é uma questão de esperar”, disse Vítor Silva Mota, em entrevista à Renascença.

Tal como os lusitanos, a pequena aldeia de Astérix também não se deixava governar pelo poderoso Império Romano. O editor reconhece algumas semelhanças entre os heróis da banda-desenhada e os portugueses, mas sublinha que isso também acontece com outros povos devido à universalidade da obra.

“Penso que aquele espírito de irredutíveis gauleses existe, um bocado, em todos os povos, cada um à sua maneira, cada um com a sua história, com os seus episódios, terá um bocadinho esse orgulho patriótico e nacionalista. Ao longo da nossa história temos vários episódios que nos poderiam aproximar desse mesmo espírito mas, enfim, não podemos esquecer que outros povos têm iguais razões para fazerem essa aproximação."

A missão de Astérix: "divertir-nos muito”

O primeiro livro, “Astérix, o Gaulês”, foi lançado em 1961. O que nos ensinaram desde então  as aventuras dos “irredutíveis”? "Aprendemos muitas coisas (risos), sobretudo, a divertirmo-nos muito”, responde o editor da ASA BD.

“O âmago de tudo isto é divertir o leitor. Obviamente que há um fundo histórico por trás que é devidamente documentado. As histórias são de facto divertidas, são descontraídas, mas têm nas entrelinhas um fundo histórico verídico. De alguma maneira, há ali uma aprendizagem, pelo menos, um olhar diferente sobre a realidade daquela época, estamos a falar de 50 anos A.C., em pleno Império Romano. Ao longo destas 35 aventuras há uma redescoberta de alguns aspectos históricos das aventuras e do tempo em que elas se passaram."

 “Astérix e os Pictos” chegou esta quinta-feira às livrarias portuguesas e marca a estreia do argumentista Jean-Yves Ferri e do desenhador Didier Conrad, depois da reforma de Albert Uderzo e da morte de René Goscinny.

Vítor Silva Mota diz que a dupla de criadores mudou, mas “os leitores podem esperar um Asterix à antiga com tudo aquilo que nós conhecemos: com todos os trocadilhos que são bem conhecidos, os jogos de palavras, com romanos, com uma poção mágica”.

Ricardo Vieira, RR, 24/10/2013

Astérix e a Transitálica: foi o Éder que os lixou

As aventuras de Asterix citam quase todos os povos que habitavam o antigo Império Romano, mas com referências aos actuais povos europeus. Esse jogo anacrónico e todos os equívocos a que se presta sempre foi, aliás, o mais brilhante artifício narrativo da série. Acontece que os lusitanos, em que nós portugueses gostamos de nos filiar historicamente, foram sempre o povo mais esquecido e apenas por uma vez caricaturado ao longo de 36 álbuns. Aconteceu em O Domínio dos Deuses (1971), numa breve aparição que mostrava uns homens de baixa estatura, calvos, bigode farfalhudo, extremamente simpáticos e bem educados. Houve uma outra alusão breve em Asterix o Legionário (1967), quando um centurião cantava “Lavadeiras da Lusitânia”, numa referência à canção de Jacqueline Francois, “Les lavandières du Portugal”, de 1965. E era tudo.

Em Astérix e a Transitálica, o 37.º álbum da série que é hoje lançado, os lusitanos ocupam enfim um lugar de relevo e protagonizam um dos momentos altos nesse jogo de espelhos entre Antiguidade e actualidade que é genético em Astérix. São uma espécie de piada que se vai desenvolvendo lateralmente ao longo de toda a aventura.

Na história, todos os povos sob o domínio de Roma são convocados para uma corrida de carros através de toda a península itálica. Ora, nesta espécie de campeonato da Europa da Antiguidade, os lusitanos são os últimos a chegar, estão sempre atrasados na corrida, não são especialmente brilhantes e no final, sem perceberem bem como nem porquê, acabam por ficar com a taça. Faz lembrar alguma coisa?

A piada, escrita por franceses, revela bem a dimensão da dor de cotovelo que os mói desde Julho de 2016. O que interessa aqui, porém, é que esse é talvez o melhor anacronismo que vamos encontrar nestas 46 páginas. E isso, infelizmente, não é dizer grande coisa.

A verdade é que depois do magnífico O Papiro de César, o segundo álbum por Jean-Yves Ferri e Didier Conrad e o primeiro sem qualquer supervisão do criador Albert Uderzo, a dupla fica um pouco aquém do que prometia. Os textos de Jean-Yves Ferri continuam competentes e tudo se desenvolve a bom ritmo – apesar do final ser desnecessariamente abrupto — e há uma mão cheia de gags que nos espremem sorrisos. Por outro lado, o traço de Didier permanece seguro e o desenhador continua a mostrar-se capaz de criar novas personagens – as entradas de Alain Prost e Silvio Berlusconi são muito bem conseguidas – e de actualizar outras sem lhes roubar a identidade ou causar estranheza aos militantes irredutíveis. É tudo bonzinho, mas não sobra um diálogo memorável, uma piada gráfica de antologia, uma prancha para arquivar no Olimpo da série. 

Mas respondendo à pergunta que conta: vale os 10.90€? Pois claro que vale. Depois de ter batido no fundo com O Céu Cai-lhes Em Cima da Cabeça, o 34.º álbum, a coisa já dava bons sinais no anterior Astérix e os Pictos (o 35º, ainda supervisionado por Uderzo) e consolidou-se com o excelente O Papiro de César. Agora marca passo, mas continuamos a um nível bastante recomendável. Bem podem agradecer ao Éder.

João Pedro Oliveira, Time Out, 19/10/2017

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